A arte da felicidade (Howard Cutler e Dalai Lama)
“Acredito que o objetivo da nossa vida
seja a busca da felicidade. Isso está claro. Quer se acredite em religião ou
não, quer se acredite nesta religião ou naquela, todos nós buscamos algo melhor
na vida. Portanto, acho que a motivação da nossa vida é a felicidade.
Quando você mantém um sentimento de
compaixão, bondade e amor, algo abre automaticamente sua porta interna.
Com isso, você pode se comunicar mais
facilmente com as outras pessoas. E esse sentimento de calor cria uma espécie
de abertura. Você descobre que todos os seres humanos são exatamente iguais a
você e se torna capaz de se relacionar mais facilmente com eles. Isso lhe
confere um espírito de amizade. Então há menos necessidade de esconder as
coisas e, consequentemente, sentimentos de medo, dúvida e insegurança se
dispersam automaticamente.
Na nossa vida diária, certamente
aparecem problemas. Os maiores problemas em nossas vidas são aqueles que temos
de enfrentar inevitavelmente, como a velhice, a doença e a morte. Tentar evitar
nossos problemas ou simplesmente não pensar neles pode nos dar um alívio
temporário, mas acho que há um modo melhor de lidar com eles.
Se você enfrentar seu sofrimento
diretamente, terá mais condições de avaliar a profundidade e a natureza do
problema. Numa batalha, enquanto você ignorar as condições e a capacidade de
combate do inimigo, estará completamente despreparado e paralisado pelo medo.
No entanto, se você conhecer a
capacidade de luta de seus adversários, os tipos de armas que eles têm e assim
por diante, terá muito mais condições de entrar na guerra. Do mesmo modo, se
você enfrentar seus problemas em vez de os evitar, terá mais condições de lidar
com eles”.
Por Dalai
Lama
O médico
psiquiatra norte-americano Howard C. Cutler decidiu ir ao Tibete para fazer
pesquisas sobre a medicina tradicional tibetana. Nessa sua estadia por terras
tibetanas acabou por conhecer esse mestre espiritual, o Dalai Lama.
Encontraram-se os dois inúmeras vezes e desses encontros, certamente bastante
frutíferos, surgiu a ideia ao autor de escrever este livro que busca orientar o
leitor no seu caminho rumo à felicidade.
Que todos
nós, de uma maneira ou de outra, buscamos a felicidade, disso ninguém tem
dúvidas. A pergunta a que é difícil responder é: - Qual o caminho comum capaz de nos conduzir a essa desejada
felicidade?
O autor deste
livro (que partilha essa qualidade com Dalai Lama), Howard C. Cutler, acha que
sim. Dessas entrevistas Cutler extraiu conhecimentos da sabedoria budista que
adicionou a alguns conceitos da psicologia ocidental. Dessa mistura surgiram
conselhos simples que tentam ajudar a todos a conquistarem uma paz interior, que
pode conduzir à felicidade. Mas, como é evidente, não há receitas certas para a
felicidade. De acordo com os autores o segredo está na capacidade que cada um
tem (ou não) de expressar seus sentimentos de compaixão.
Eu, aliás,
percebi que a questão fundamental na busca pela felicidade está precisamente em
rever as nossas crenças ou premissas que causam o sofrimento. A premissa é o ponto ou a ideia
de que se parte para armar um raciocínio enquanto a prerrogativa significa
privilégio ou vantagem que possuem os indivíduos de uma determinada classe ou
espécie. Mesmo não sendo iguais elas são usadas, em muitos casos, com o mesmo
sentido. Como se quisessem dizer que aquilo que eu uso para justificar as
coisas partisse de uma ideia ou vantagem intrínseca. No livro A Arte da
Felicidade, escrito por Howard C. Cutler e Sua Santidade Dalai Lama, podemos
entender melhor:
— No esforço de determinar a origem dos problemas
de cada um, parece que a abordagem ocidental difere sob muitos aspectos do
enfoque budista. Subjacente a todas as variedades de análise ocidental, há suma
tendência racionalista muito forte, um pressuposto de que tudo pode ser
explicado. E ainda por cima existem restrições decorrentes de certas premissas
tidas como líquidas e certas. Por exemplo, eu recentemente me reuni com alguns
médicos numa faculdade de medicina. Estavam falando sobre o cérebro e afirmaram
que os pensamentos e os sentimentos resultam de diferentes reações e alterações
químicas no cérebro. Por isso, propus uma pergunta. É possível conceber a
sequência inversa, na qual o pensamento de ensejo a sequência de ocorrências
químicas no cérebro? Mas a parte que considerei mais interessante foi a
resposta dada pelo cientista. “Partimos da premissa de que todos os pensamentos
são produtos ou funções de reações químicas no cérebro.” Quer dizer que se
trata simplesmente de uma espécie de rigidez, uma decisão de não questionar o
próprio modo de pensar.
Gosto de ver que as minhas premissas ou
prerrogativas jamais serão plenamente partilhadas pelos outros, por quê? Porque
não existe a possibilidade de que as minhas experiências e o modo como eu as
compreendo sejam idênticos ao dos outros e é exatamente isto que torna as
nossas vidas mais interessantes, os conflitos.
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